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Mostrando postagens de 2020

Tom Escarlate

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Esta crônica é uma obra meramente ficcional, qualquer semelhança com pessoas, lugares ou fatos reais é mera coincidência. Os especialistas dizem que se carregar na boca, não deve carregar nos olhos. Estou falando de maquiagem. Ora, então, atualmente, temos uma tendência! Sim, meus olhos estão carregados de insatisfação, mas não de tristeza nem frustração, pois mesmo sabendo que a esfera da minha ação é quase nenhuma, ainda assim, seguindo firme no meu propósito de inspirar pessoas, de um modo ou de outro, mesmo que isto aconteça muito raramente, ainda que eu inspire uma única pessoa de tempos em tempos, ainda assim, me sinto realizada e cheia de felicidade por estar sendo quem sou, por viver e revelar-me tal como sou, sem máscaras! Mas sinto o peso de toda a opressão, de toda a imposição  para que me anule, para que me vá morrendo aos poucos, como que sumindo, desaparecendo e tornando-me imperceptível, me desumanizando pouco a pouco. Mas que diabos! Como é possível existir se

Equação

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Em ferida aberta Não se mexe não Só o tempo é capaz De calar um coração Mas o que ele diz Em cada batida Doída, quase falida De tanta paixão O que fazer da vida sem ela Que sempre devora a razão Só sobrando o descompasso Desse pobre coração Amar, amar e amar É pura equação É lógica intrínseca De todo o coração

Agonia

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A garganta em seus soluços Amarga tudo o que engulo E os olhos em plena seca Refletem o que vislumbro E quão profundo é o desalento De quem só se sente Sem ver futuro Imenso, inimaginável Como um plano obscuro Eis que o que bate aperta Até quase fazer parar E é quando o peito cessa De tanto esperar E assim finda a sorte De quem só faz desejar

Despertar

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E aí, você também acha que já está mais que na hora de acordar? Então, inspire-se, porque sem poesia não dá. Fui. Despertar Dia amanhecendo A luz ainda azulada E o sol tímido atrás das montanhas E na brisa breve o cheiro Da manhã que está por vir De tudo o que pode acontecer Dos amigos que irão partir Dos amores para me despir Para que rancores, senão Para manchar nossas almas puras Ainda que falemos da menor parte delas Sinto o cheiro das velas se apagando Do mar se revoltando Do resquício do suor noturno Da grama ainda molhada E do café que nossas almas desperta E nos faz acordar para a vida

Enquanto Espero

É, minha gente, eu não sei quanto a vocês, mas euzinha aqui já estou "porra aqui" com essa *@!* de "fica em casa". E volta e meia alguém vem com uma chamada nova: "Tá sabendo das vespas-gigantes? Viu as vespas-assassinas? E a tal super pneumonia?" Caramba! Esse tipo de coisa até me arrepia. Assim é provável que eu nunca mais veja a luz do sol! E a tal máscara? Agora para sair de casa, se preciso, é um parto duplo, porque se eu não lembrava de onde estava o óculos, ainda tem essa nova focinheira para encher meu saco. Mas, reclamações a parte... Sim, eu sou reclamona. Pronto, falei! Só me resta esperar. Fui! Enquanto Espero Eu quero uma morte assim, Que seja de qualquer maneira, Eu quero morrer para mim Antes da derradeira. Eu quero me sentir em paz Com a certeza de não  Deixar nada para trás. Eu quero não me ressentir Quando ela chegar para mim. E nessa minha espera, Assim espero e espero, Enquanto ela não vem, Vou vivendo a minha vida Na esperança de ir al

A Luz Que Nos Revela

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É, de fato, o que acontece quando ficamos por muito, muito tempo na escuridão, bem longe da luz do dia ou de qualquer luz que nos permita ver as coisas tais como são, é que nos acostumamos a tatear e a viver no equívoco como se fosse perfeitamente normal. Mas, a medida que vai clareando, começamos a ter um ligeiro vislumbre das partes e de tudo o que se apresenta, sendo muito comum que ainda nos equivoquemos por pura falta de clareza, por pura incapacidade de perceber o que está à volta e, justamente por isto, é perfeitamente justificável nossas falhas. Quando a luz nos é revelada aos poucos, temos tempo de nos acostumar sem que sua clareza nos machuque, nos fira os olhos, mas quando é de repente, como um flash, que contrariando o próprio sentido da palavra, perdura a nossa volta, em nossas retinas, em nossas mentes, em nossas almas, como que nos invadindo por completo, tomando conta do mundo e atuando como a própria revelação, num primeiro momento nos fere, faz com que cerremos

Maldição

Esta crônica é uma obra meramente ficcional, qualquer semelhança com pessoas, lugares ou fatos reais é mera coincidência.         Há três meses estou isolada. E o que mudou? Nada! Sempre estive só, mas agora me vejo impossibilitada de camuflar a obviedade de minha vida que é a verdade de que ao longo de quase meio século não consegui construir boas relações de amizade nem manter os vínculos das relações familiares, cujos efeitos profundos me foram nada saudáveis, e todos a quem amei se distanciaram de mim ou talvez nunca tenham se aproximado de fato e suas lembranças para mim não passam de fragmentos da minha imaginação, daquilo que eu gostaria que tivesse acontecido, de como eu gostaria que as coisas tivessem sido, mas que simplesmente não foram nem de longe tal como desejei.      Hoje, em meio ao medo generalizado de ter a vida abreviada por conta de um vírus, de uma gripe com graves consequências ou apenas por conta da crueldade do ser humano que nega o tratamento adequado no perío

Náusea

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        Então, meus queridos, como andam seus estômagos?         Sim, porque o perigo, embora há muito anunciado, como andar numa montanha russa e subir e subir, tendo a intuição de que a qualquer momento a descida será intensamente experimentada e quando ela enfim se concretiza, inevitavelmente sentimos aquele frio na barriga, aquele enjoo, e aquele arrependimento estúpido de quem fingiu não saber do perigo e se aventurou numa brincadeirinha, cujo resultado não poderia jamais ser diferente, cobra seu preço.           Pois é, bem-vindos ao "Novo Normal" que nada mais é do que a total inversão de valores, o terrível isolamento das consciências, uma vez que se torna impossível e até proibido expressar qualquer coisa devido à alienação imperativa pelo uso de palavras vazias que não se referem a absolutamente coisa alguma, mas que são usadas como navalhas afiadas nas mãos daqueles que estão mesmo dispostos a retalhar tudo o que nos concede alguma sanidade, algum equilíbrio, algum

Tirando a Remela

Sabe quando a gente dorme por muito tempo, quando a noite parece que se prolonga e ainda avançamos por toda a manhã naquele sono profundo que quando se encerra, se torna difícil para nós até abrir os olhos, pois estão cerrados, colados de remela como se estivessem resistindo bravamente à saída daquele profundo torpor? Pois é, quando a noite foi boa e revigorante, dá até para entender a resistência que parte de nós manifesta, mas quando ao longo de toda aquela escuridão vivemos um terrível pesadelo, não dá para entender o que em nós resiste tanto. Minha finada sogra querida costumava dizer: “Nessa vida, a tudo se acostuma.” — E me parece a pura verdade. Quantas pessoas se condenam a viver relações danosas para, às vezes, todos os envolvidos sem nem sequer cogitar dar um fim nisto, por exemplo, mulheres que se sujeitam a viver com homens que não lhes têm um pingo de respeito? Quantas pessoas vão cedendo e abrindo mão de tudo aquilo que é importante para elas, a troco de nada, gente

A Micose Chinesa

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Esta crônica é uma obra meramente ficcional, qualquer semelhança com pessoas, lugares e fatos reais é mera coincidência. Naquele dia, lá pelas 4 da tarde, o telefone tocou: — Alô. — E aí, irmãozinho, tudo bem com você? Você sumiu das redes, mando mensagem e nada. Como é que está a vida aí no seu bunker ?  — Opa, quem é vivo sempre aparece, ou liga. Como é que você está? Esses dias, estava pensando em vocês aí. Como estão se virando? — Ah, rapaz, está complicado, esse negócio de dar aulas em casa é um saco, se por um lado a gente não tem que acordar cedo, pegar carro e enfrentar um trânsito dos diabos, a gente acaba trabalhando muito mais, porque são tantos os detalhes que haja paciência. Além do mais, ficar preso desse jeito é terrível, a gente vai ficando num estado de nervos que nem dá para falar. — É, meu amigo, é uma loucura o que estamos vivendo, mas me conte, vocês estão podendo ir ao mercado, ir de uma cidade à outra ou a cana está mesmo dura? — Aqui eles fizeram

Ato Final

Eu sempre imaginei como seria o meu último dia neste mundo de Deus. Para falar a verdade, nunca pensei que seria um dia triste para mim, mas sim um dia um tanto nostálgico, porque sendo eu quem sou, seria inevitável olhar para trás sem me lamentar pelas coisas que não terminei ou que simplesmente deixei para lá, embora soubesse que rapidamente esta nostalgia, este mar de lamentações cederia espaço para uma última apreciação daquilo pelo qual realmente vale a pena viver. Sempre tive a certeza de que saberia exatamente o dia da minha morte e que nesse dia, pouco antes do ato final, sozinha estaria numa praia sentada na areia de frente para o mar num fim de tarde quente e alaranjado sentindo pela última vez o meu cheiro preferido, que é o cheiro de maresia, e que ao inspirar profundamente esse cheiro dos mares, ganharia uma sobrevida até que pudesse voltar para casa, preguiçosamente, para só então dar um fim nisso lá pela madrugada, que para mim sempre fora a melhor hora para pôr um f

O Alimento Nosso de Cada Dia

Quem aí está sentindo falta daquela pessoa com quem era normal ter longas conversas regadas a cafezinho e guloseimas? Quem está com saudade de dar uns bordejos e marcar aquele encontro no fim da tarde com os amigos só para jogar conversa fora? Eu não sei quanto a vocês, mas eu sim! Uma das coisas que gosto de fazer é preparar aquele bolo caseiro, assar aquele paõzinho de queijo especial, passar aquele café, cujo o aroma é ainda melhor do que seu próprio sabor, e sentar-me à mesa com aquela pessoa querida para falar da vida, dar risadas e saciar a gula, que se partilhada nunca é um pecado - pensemos assim! Sei que nada está como antes e até duvido que nossas vidas voltem a ser exatamente do mesmo jeito, mas acredito que tudo o que vemos se revelar nesse mundão é fruto dos conflitos internos do homem e nada mais. É, eu sei que estou simplificando as coisas, ou talvez seja você que não está alcançando o meu pensamento, vá lá saber. Só sei que esse é mesmo o tipo de assunto para se te

Medo da Morte

Que tormento Meu lamento é só porque Os dias se demoram E a noite, sozinha Mesmo ao teu lado Sofro quieta, calada Pelo tempo que nos escapa E assim adentrando a madrugada Tal tormento me faz acordada Até que exausta me entrego Àquele que nos dá alento No escuro em breves momentos Onde tudo se torna possível Sonho por toda a madrugada Para não me ver morrer acordada

Beijo

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E enfim chegou o carnaval! Época de fantasiar, de se apaixonar, de curtir, de se divertir. De grandes amores e poderosos tambores. De exageros e desesperos que, no fim, nos levam à cinzas em plena quarta-feira. Mas no meio desse caminho, entre um confete e uma serpentina, uma irresistível tentação. E o resultado de corpos suados em meio à multidão só pode ser um beijo molhado. Luluca, a poetisa, adverte, divirta-se com moderação. Beijo Molhado, temperado E nada mais vejo Fecho os olhos E me entrego totalmente A esse anseio Línguas invasivas Nada fere, só excita E me rendo ao deleite Morno para quente Um suar frio, um agrado O calor que agora sente É de um beijo molhado