Tom Escarlate

Esta crônica é uma obra meramente ficcional, qualquer semelhança com pessoas, lugares ou fatos reais é mera coincidência.


Os especialistas dizem que se carregar na boca, não deve carregar nos olhos. Estou falando de maquiagem.
Ora, então, atualmente, temos uma tendência!
Sim, meus olhos estão carregados de insatisfação, mas não de tristeza nem frustração, pois mesmo sabendo que a esfera da minha ação é quase nenhuma, ainda assim, seguindo firme no meu propósito de inspirar pessoas, de um modo ou de outro, mesmo que isto aconteça muito raramente, ainda que eu inspire uma única pessoa de tempos em tempos, ainda assim, me sinto realizada e cheia de felicidade por estar sendo quem sou, por viver e revelar-me tal como sou, sem máscaras!
Mas sinto o peso de toda a opressão, de toda a imposição  para que me anule, para que me vá morrendo aos poucos, como que sumindo, desaparecendo e tornando-me imperceptível, me desumanizando pouco a pouco.
Mas que diabos! Como é possível existir sem que me percebam?! 
Então hoje decidi mostrar-me, expor meus olhos carregados de toda essa insatisfação, assim como minha boca carnívora, como se essa ira manchasse meus lábios de um tom escarlate, ressuscitando minha humanidade.
E muitos me olham me condenando, e ainda há aqueles que me olham com tamanho espanto sem reconhecer-me como um ser humano. Procuram um padrão! Desejam uma persona, mas não grata, que não se sinta obrigada a ser nem exercer seu potencial, que não lute por suas virtudes, que não reaja a todo esse mal.
Quero morrer! Mas só quando for a hora! Me recuso a morrer dessa forma, a morrer aos poucos sendo arrancada de mim e tendo coberta a boca para que mais tarde palavra alguma consiga sair. Repudio essa mortalha sobre mim!
Eu sou porque me expresso, porque me revelo e porque me percebem. Eu sou uma mulher com lábios ávidos por dizer, me deixem viver em paz!

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