O Dia Antes de Ontem


Chovia, mas não estava frio.
Nada a fazer, a não ser ficar em casa vendo televisão.
De repente me dei conta de que era Dia de Finados, um feriado nacional dedicado àqueles que chegaram ao fim, que se foram, que morreram.
É claro que sempre lembro daqueles os quais perdi, mas no Dia de Finados é impossível não lembrar. E por que será que sempre chove nesse dia? Um dia chuvoso nos faz ficar um tanto melancólicos.
Comecei a pensar em quem gostaria que viesse do além para o almoço. Meus sogros, talvez?
Com certeza seria bem divertido, eles iriam comer muito, beber muito, rir muito e por fim meu sogro armaria uma enorme briga por motivo nenhum, e depois de deixar todo mundo bastante irritado, diria: "Beijinho, beijinho."
Quem sabe meus avós maternos?
Esses gostavam mesmo de mim. Minha avó iria elogiar a comida e meu avô iria perguntar pelo mingau de fubá, reclamar que tinha pouca carne no feijão, sendo repreendido imediatamente pela minha avó.
Poderia ser meus avós paternos.
Francamente não sei como seria tê-los à mesa. Na minha lembrança de menina, eles já não se suportavam, estavam sempre de cara feia em todos os almoços de domingo. Mas pensando bem, eles tinham muitos motivos para serem infelizes.
Deveria ter uma espécie de "Indulto de Finados", onde os mortos pudessem vir para o almoço. Indulto, não, um "Saidão", se não eles não voltariam mais para o além, e isso com certeza seria um grande problema.
Agora, que seria ótimo poder matar as saudades daqueles que se foram, ou mesmo desfazer os eternos mal-entendidos, ah isso seria.
Porque, gente, a vida é uma dádiva, mas a morte é uma benção.



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