Diálogo
Esse ato acontece de modo quase inconsciente, sem premeditação. A poesia te toca, ou não.
E como explicar?
Ah, isso tornaria a vida do Djavan um verdadeiro inferno.
Meu marido é um grande incentivador, mas confesso que às vezes ele me olha com aquela cara de "não entendi nada", e reclama pelo fato das minhas poesias serem muito curtas - ora, eu sou poetisa não uma apóstola, se é que existe essa palavra. Mas tudo bem, tenho certeza de que não agrado a todos.
Explicar o sentido de uma poesia é como discutir a relação: Eu nunca tive paciência pra isso. Primeiro que o homem e a mulher são seres tão diferentes, que me admira serem da mesma espécie. Ambos tem maneiras tão próprias de sentir que é quase impossível discutir a reação de cada um diante de uma situação. Acho que o ponto é se há uma razão, porque a pessoa pode estar certa ou errada nas suas posições, e olha que eu não estou falando de quem tem ou não razão pontualmente, pois muitas vezes nem se trata disso, mas sim de se apegar aos detalhes do tipo: "Como pode, você não sente nada, eu aqui me acabando e você desse jeito, parece que morreu e esqueceu de deitar!" - se esquecendo de que em muitas situações, no final as soluções propostas seriam as mesmas.
Ou seja, muitos casais se apegam aos detalhes. E vocês sabem, o diabo está nos detalhes.
Em segundo lugar, esse tipo de discussão, pra mim, vai desmistificando o outro e aí vai deixando as coisas meio que, sem graça. Não sei se estou sendo clara, mas quando tento explicar meus versos acontece a mesma coisa, é como se eles perdessem a graça. É preciso um pouco de mistério.
Acho que para o poeta, tudo tem de ter um sentido, sim, mas não é necessário nenhuma explicação racional. O consenso se dá pela emoção.
Já quanto aos casais, eu não sei. Pra mim tem dado certo.
É claro que há momentos em que devemos aparar as arestas e colocar os pingos nos is, pra que não esqueçamos de quão diferentes nós somos, e assim sermos mais tolerantes uns com os outros.
Também, só de raiva eu fiz essa poesia pro querido senhor, meu marido:
Diálogo
Poesia tão curtinha
Nem dá página inteira
Só meia
Mas pra que escrever tanto
Se em meio ao meu pranto
Tudo cabe em poucas linhas
Deveria escrever sobre a vida
Esperança e amor
Apenas coisas lindas
Mas como é possível
Se às vezes sou dor
Uma vítima do desamor
Assassino frio
Que me faz cuspir aos poucos
Parte do que eu sou
Não fala coisa com coisa
O que tem a ver alho com bugalho
Não faz sentido
Mas pra mim
Tudo é muito significativo
A luz, a corda e a flor
Não entendi
Não tem problema
Vou explicar tudo
Numa página inteira
Acontece que às vezes sou feliz
Outras vezes não
Às vezes sou pura calma
Outras vezes agitação
E quando me calo
Tentando ouvir meu peito
O que dele entorna
Escorre pela ponta do meu dedo
Meu coração não tem resposta
Nem tampouco meu pensamento
E o que sobra dessa prosa
São alguns versos ao vento
Mas por que tanta angústia?
Porque o artista é assim
Fruto de amor e tormento
De temperança e desalento
Sim, esse ser frágil
Que é capaz de partir em mil pedaços
Até a couraça mais forte com que se deparou
Se está dizendo…
Sim, e falo por mim
Tem coisas que não podem ficar pra sempre no peito
Pois faltam-lhes espaço
Elas só cabem no vazio
Das muitas poucas linhas que escrevo
Meus versos são curtos, sim
Mas apenas pra sobrar espaço
Pra caber tudo que há em mim
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