Um lugar na memória
Você já esteve em Cabo Frio?
Humm... Acho que não.
Digo, você já esteve em Cabo Frio há 35 anos atrás?
É desse Cabo Frio que estou falando.
Olha, eu já estive em muitos lugares, muitas praias, mas nenhuma delas marcou tanto a minha memória quanto essa praia em Cabo Frio.
Falo essa praia, porque faz muito tempo e guardar seu nome não foi a coisa mais importante para mim na ocasião.
Tinha apenas 6 anos e estava muito ocupada correndo, estasiada com o barulho que ouvia quando meus pés tocavam a areia branca que contrastava perfeitamente com o azul de céu e mar no horizonte.
É engraçado como algumas lembranças permanecem tão vivas, tão nítidas em nossa mente, que quando recordamos delas é como se nossos sentidos, todos eles, recebessem estímulos reais, verdadeiros. Parece que a linearidade se acaba e mais uma vez estamos lá, vivenciando tudo de novo.
Lembro que me sentia leve, quase como se pudesse voar. E, cá pra nós, se eu fosse um pouquinho mais magra do que eu era, com certeza teria saído voando como uma folha ao vento. E aí, teria visto tudo de cima.
De fato, é mais ou menos assim a visão que tenho de mim mesma naquela praia deserta. Como uma espectadora observando tudo de um ângulo particular, assistindo tudo do alto. Na verdade sinto como se o vento tivesse mesmo me levado.
Ah, o vento... aquele vento forte, que a gente podia sentir ao toque, vinha carregado de areia, do cheiro de mar e de concha, de sal e prazer. Um prazer enorme de estar ali correndo com meu irmão mais novo, tentando evitar a surra de areia que aquele vento nos dava, envolvidos numa batalha para retirar o cabelo dos olhos e da boca, agitando os braços como se tivéssemos asas e pudéssemos a qualquer momento levantar voo. E rindo, rindo sem parar, rindo do vento que carregava nossa risada e nossa voz para longe, para o mar.
Lembro de minha mãe e meu pai ainda tão jovens... Da minha avó e prima com seus vestidos esvoaçantes, tentando mantê-los no lugar. Lembro daquele mar crespo que o vento insistia em lamber só para depois cuspir na gente todo aquele sal, aquela maresia.
De vez em quando resolvíamos peitar o vento, nos virando e arriscando uns passos em sua direção, só para medir força. Como se pudéssemos vencer o vento...
E as dunas?! Aquelas montanhas de areia cúmplices daquele sopro úmido e salgado que volta e meia mudavam de lugar. Recordo de escalarmos aqueles imensos montes de areia aquecida pelo sol e depois rolarmos lá de cima até que nossos corpos parassem sozinhos, ou simplesmente em obediência ao apelo desesperado da nossa mãe que insistia que tivéssemos cuidado.
Ah, doce lembrança, ou seria melhor dizer: salgada lembrança... Que guardo comigo e a uso quando quero sentir que sou maior que o tempo. Que posso existir quando e onde quiser e ter a certeza de que tudo permanece igual, numa rotina tão acolhedora que esse exercício de memória me proporciona, deixando intacto esse cenário para que eu possa trazê-lo à tona sempre que precisar me acalmar.
Nostalgia?
Não. Definitivamente é mais um exercício de relaxamento, onde começo imaginando um lugar calmo e tranquilo, que para mim se traduz numa praia deserta num dia de sol com céu azul e, pronto, de repente estou lá, naquele paraíso particular que se chama Cabo Frio, de 35 anos atrás.
Que lindoooo . . . parabens, mocinha!!!
ResponderExcluirValeu mesmo, gente. Bjs.
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