Às vésperas

        Uma sensação estranha de euforia e apreensão nos invade quando estamos às vésperas de que algo importante aconteça. E o grau varia de acordo com o tamanho das "certezas" e expectativas que temos, independente do acontecimento se dar na esfera estritamente pessoal ou não. E, em caso de frustração, o tamanho da decepção será inversamente proporcional à percepção que se tem dos fatos; quanto maior a distância da realidade, maior será a desilusão.
        É assim no amor, quando apaixonados somos invadidos pelo desejo de ser amado e ver nossas fantasias realizadas. E esse mesmo sentimento nos invade num momento como o que estamos vivendo agora, às vésperas das eleições.
        Fala-se muito no discurso do ódio, do extremismo, mas o que vejo é uma imensidão de gente querendo a mesma coisa, ou seja, uma mudança para melhor. O Brasil não está dividido, o que acontece é que diferentes percepções da realidade geram diferentes manifestações. Mas se queremos a mesma coisa, onde está o xis da questão?
        Escolher quem nos representa é uma enorme responsabilidade, pois indicamos os rumos que queremos com cada escolha que fazemos. Pois muito bem, se já temos a consciência do tamanho da responsabilidade que significa essa escolha, devemos nos perguntar: O que é preciso para fazermos a escolha certa?
        Pensar! Claro!
        Ora, se temos um bom acesso a educação, se temos o hábito da leitura, buscando "sempre" nos informar sobre o que acontece no Brasil e no mundo, se temos um bom conhecimento histórico, se estamos num meio propício para discussões sobre diferentes ideias sobre os rumos da sociedade, certamente isso nos dá condições de escolher melhor e não sermos enganados pelo uso indevido de palavras e conceitos.
        Infelizmente, nós brasileiros temos sido logrados do nosso direito à educação ao longo de anos. E não por acaso, pois se tivéssemos uma boa formação não seríamos presas fáceis nas mãos não só de políticos desonestos, mas também de uma elite que jamais desejou mudar nada nesse país.
        Então o que fazer se a maioria de nós brasileiros não temos essa condição? É possível pensar sem ter frequentado os bancos escolares? É possível pensar "tendo frequentado" tais bancos? Sim, porque o que vemos são pessoas saindo de universidades sem a capacidade de relacionar uma coisa à outra, como se o Tico e Teco tivessem sido despejados das cabeças então baldias.
        Felizmente, a resposta é sim, pois a razão ou capacidade mental é algo que pertence a todos nós.
        Quem pratica meditação sabe o quão importante é observar sem julgamentos. Trazendo isso para esse momento eleitoral significaria ter a capacidade de parar, observar a realidade a nossa volta, deixando de lado o viés ideológico, até porque se não temos conhecimento como podemos afirmar defender uma ou outra ideologia? Se fizermos isso estaremos jogando palavras ao vento sem nenhum sentido. Estaremos sendo usados por essa cambada de safados que vêm destroçando o nosso país a anos se escondendo atrás de ideias bonitas que não têm nada a ver com o que praticam.
        Então vamos meditar um pouco antes de escolher quem irá nos representar?
        Pare um pouco, pense na sua vida. Ela está melhor hoje do que a vinte anos atrás? Se você é bem jovem, converse com seus avós, pergunte como era a vida no passado. Você hoje tem mais tranquilidade e se sente mais seguro de sair de casa do que a vinte anos? A escola dos seus filhos ou a que você frequenta oferece um ensino melhor do que a vinte anos? O fato de você fazer uma faculdade é certeza de um emprego melhor ou estão lhe enganando com um canudo de papel e um péssimo ensino? Você está empregado? Você pode dar a vida que gostaria aos seus filhos?
        Deixe a ideia de que é de esquerda ou direita ou do meio de lado se você nem sabe ao certo o que isso significa. Mas ninguém sabe mais da sua vida do que você. Então se você abrir os olhos e for sincero com as respostas que dará a si mesmo, você com certeza saberá em quem votar.
        Se você é contra o roubo não pode votar em quem está preso por ter roubado a nação!
A ideia de que "ele rouba, mas faz" é uma idiotice! Então se um ladrão entrar na sua casa, amarrar sua família e prendê-los no banheiro, roubar tudo o que vocês têm em casa, mas antes de sair lavar sua louça, você achará que ele é bom????
        Eleição é como namoro, quando escolhemos um candidato estamos comprometidos, então em caso de traição é preciso mudar de "namorado". Simples assim!
        "Ah, mas eu gosto dele..."
        Você gosta dele ou você é do tipo que detesta ficar sozinha? É carente?
        Você gosta do seu candidato pelo fato dele ter feito a sua vida ficar melhor ou por causa de algumas pessoas que você admira dizerem que ele é bom? Será que a vida dessas pessoas é igual a sua vida?
        Mais uma vez eu digo que é preciso ser sincero e não ter medo da verdade. Eu sei que é muito difícil constatar que a nossa vida é uma droga, mas é necessário enxergar a realidade tal qual ela é, senão a decepção e a frustração será enorme!!! E a culpa será toda sua.
        Se escolher um parceiro galinha, não pode reclamar!
        Fui!