Hora do recreio


No final do mês passado, recebi um convite pelo Facebook para participar de um encontro de ex-alunos da minha escola.
“Puxa, que máximo!” - pensei. “Uma ótima oportunidade de rever o meu colégio e pessoas que eu não vejo faz séculos.”
Então, liguei pra uma amiga daqueles tempos, com a qual mantenho contato até hoje, pra que ela fosse comigo. Uma companhia é sempre bom.
A chata, como era de se esperar, disse:
“Ah, esses encontros costumam ser tão sacais... Um querendo mostrar que está melhor que o outro. Ah... não vou, não.”
Que absurdo! Como pode uma pessoa reagir assim a um evento desses?
Tudo bem que a gente não era popular e que o nosso grupo não era tão unido assim, mas aquelas pessoas com as quais convivemos foram importantes na nossa vida de um modo ou de outro. Então pensei: Quer saber, vou sozinha.
Aliás, essa atitude é uma das coisas que aprendi com um pessoal da Rússia que conheci há tempos atrás. Eles não precisam de “turminha” pra se divertir.
Conclusão, fui.
Cheguei um pouco atrasada, pois, imagina, mesmo num sábado peguei um engarrafamento daqueles só pra variar. Mas quando me pus portão adentro, fiquei emocionada.
Imediatamente me vi correndo pelo pátio com meu Kichute e meu uniforme tão amado. Amado mesmo, pois me lembro de que mesmo antes de eu estudar nessa escola, já tinha o sonho de usar aquela saia azul com duas pregas na frente. Gostava tanto de uniforme que quando as aulas começavam queria até dormir com ele. Era uma guerra lá em casa, coitada da minha mãe.
Dizem que os cheiros evocam as lembranças mais profundas. Eu concordo plenamente, pois toda escola tem seu cheiro característico, nesse caso uma mistura de Mirabel com guaraná irresistível, e de repente estava no recreio disputando um lugar no jardim da casa das freiras pra poder comer minha merenda.
Bom, da recepção ao auditório, onde tudo estava acontecendo, percorri minhas lembranças da terceira à quarta série e depois do primeiro ao segundo ano do segundo grau. Foi incrível. O engraçado é que pra mim as lembranças mais nítidas são também as de tempos mais remotos.
Me sentei em uma das cadeiras que formavam um U na quadra bem em frente ao palco.
Nossa! Quantas lembranças...
Foi bem ali naquele palco que eu imitei a Boa Francineide, personagem do Viva o Gordo, lembra?
Agora imagina uma tripa de gente - sim porque eu era magrela que só - imitando a Boa Francineide.
Vê, desde criancinha eu tenho esse dom artístico.
Bem, percebi que as pessoas se olhavam tentando se reconhecer. Eu é claro também estava em busca de um rosto familiar. Até que, finalmente avistei minha professora de inglês do segundo grau. Ela não mudou absolutamente nada, incrível!
Parecia que as professoras que falavam ao microfone chamavam as turmas pelas décadas que frequentaram o colégio. E quando ouvi chamarem a década de 80, fui lá pra frente, onde alguns ex-alunos ao microfone relatavam suas lembranças.
Alguém falou do bolo de chocolate da dona Francisca. Disso eu me lembrei!
Um rapaz barbudo - tá bom gente, vou me corrigir. - Um homem barbudo lembrava do futebol, e eu fiquei pensando quem poderia ser aquele cara. Será que eu o conhecia? Sua figura me era familiar. Mas saí de fininho antes que alguém me fizesse falar algo.
Minhas amigas costumam dizer que eu não tenho memória, tenho uma vaga lembrança.
Ora é claro que tenho memória, só que elas precisam ser reavivadas, ué.
Logo que me sentei avistei outro rosto conhecido, era uma colega com quem, mesmo depois dos tempos de escola, sempre encontrava vez ou outra antes de eu me mudar, e foi ela quem ajudou a reavivar minhas memórias, dizendo os nomes das professoras que ali estavam, e também de alguns ex-alunos. Aí então, pude me confraternizar mais.
De repente ouvi uma voz me chamando. Era aquele cara barbudo. Me chamou pelo nome! Incrível! Eu tinha uma vaga ideia de quem ele poderia ser, mas confesso não acreditei no meu palpite, pois não o via desde a quarta série. Ou seja, muito, muito tempo mesmo.
Quanta saudade! Afinal, eu estava mais uma vez diante daquele garotinho que brincou comigo, estudou comigo, e fez parte de um dos melhores momentos da minha vida.
Isso não é significativo?
É claro que sim!
No auge daquela emoção, quem chega?
A nossa professora da quarta série, a tia Lourdes. Nossa! A tia Lourdes era tudo pra mim, eu amava aquela professora.
Depois, percorremos toda escola, seus corredores, o pátio, tudo. Aquele bando de marmanjos saudosos me fez lembrar de como os corredores se enchiam após a sirene anunciar o recreio. Minha lembrança estava tão viva que cheguei até a ouvir os gritos da criançada.
Tiramos muitas fotos, matamos as saudades, lembramos de algumas figuras.
Foi um dia maravilhoso pra mim, pois poder rever minha escola, poder reencontrar pessoas tão queridas, foi inesquecível.
Quer saber, se você tiver uma chance de participar de um programa assim, não perca a oportunidade. A não ser que você tenha sofrido horrores nessa época e que suas lembranças sejam as piores possíveis, será muito difícil você não gostar de rever sua escola.
Então, até o próximo encontro.


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